O funcionalismo de Bronislaw Malinowski e o Estrutural-funcionalismo Radcliffe-Brown



Autor: Davi Andrade 


   O texto trás uma breve apresentação de dois dos principais antropólogos da antropologia funcionalista e estrutural-funcionalista, Radcliffe-Brown e Makowski, tratamos sinteticamente os principais pontos de convergência e divergência entre suas disposições teóricas metodológicas e alguns dos pontos centrais do pensamento desses autores, utilizando como principal referência o livro História da antropologia de Finn Eriksen e Sivert Nielsen (2007) bem como algumas incursões em duas obras desses autores respectivamente: “ Crime e costume na sociedade selvagem” (Malinowski, 2003) e “ O método comparativo em Antropologia Social” (Radcliffe-Brown, 1978)

  Eriksen e Nielsen apresentam uma breve biografia de Radcliffe-Brown, a sua origem, na classe operária, seu percurso acadêmico (inicialmente estudante de medicina) atévi na antropologia, bem como a proposição teórica adotada pelo antropólogo em seu estágio inicial (o difusionismo), até chegar, através do seu contato com Durkheim, mais precisamente com a obra “As formas elementares da vida religiosa”, ao desenvolvimento do estrutural funcionalismo.

   Nesse ponto, ao tratar das contribuições teóricas de Radcliffe-Brown, apresentam sinteticamente as principais noções teóricas (antropológicas) por meio de suas tradições e características gerais. 

   Interessante perceber o persistente paralelo que os autores fazem entre Radcliffe-Brown e Malinowski, tratando quase que por contraste as duas figuras e correntes antropológicas que eles representam, algo que aparece de forma muito clara e sintética no seguinte trecho: 

 

Radcliffe-Brown foi seguidor de Durkheim ao considerar o indivíduo principalmente como produto da sociedade. Enquanto Malinowski preparava seus alunos para irem ao campo e buscarem as motivações humanas e a lógica da ação, Radcliffe-Brown pedia aos seus que descobrissem princípios estruturais abstratos e mecanismos de integração social. (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p. 59)


  Ou seja, na abordagem funcionalista de Malinowski os antropólogos preconizam o indivíduo e as motivações mesmas de suas ações, reconhecendo como imprescindível para efetivação do conhecimento e compreensão da cultura nesse procedimento, de compreensão dessas motivações humanas, algo que se exemplifica muito bem no trecho que segue, presente na obra “Crime e castigo na sociedade selvagem”, de Malinowski:


[...] O verdadeiro problema não é aprender como a vida humana se submete às regras - ela simplesmente não se submete -, o verdadeiro problema é saber como as regras se adaptaram à vida. (MALINOWSKI, 2003, p.95)


   Com isso, Malinowsky não nega o caráter coercitivo que tem as instituições sociais, mas reafirma o caráter intercambiável que tende a estabelecer entre a fisiologia e a cultura, uma vez que, conforme seu “individualismo metodológico”, Eriksen e Nielsen determinam:


[...] As instituições existiam para as pessoas, não o contrário, e eram as necessidades das pessoas, em última análise suas necessidades biológicas, que constituíam o motor primeiro da estabilidade social e da mudança [...] (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p. 57 a 58)


   Sendo assim, enquanto Malinowski afirma, da vida humana, que ela simplesmente não se submete às regras, mas as regras se adaptam a ela, para Radcliffe-Brown, são as estruturas sociais, instituições, normas de comportamento, "representações coletivas", em suma as redes de relações, gerais e coercitivas, encaradas mesmo em sua externalidade e coercividade sobre o indivíduo que deve ser acadêmico e, portanto, ocupam esse protagonismo epistemológico, como Eriksen e Nielsen explicam:


[...] Na obra de Radcliffe-Brown a estrutura social existe independentemente dos atores individuais que a reproduzem. As pessoas reais e suas relações são meras agências da estrutura, e o objetivo último do antropólogo é descobrir sob o aspecto empírico situações existentes os princípios que regem essa estrutura [...] (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p. 60)


   Importante ressaltar, sobre o contraste entre esses dois antropólogos ou que afirmam Eriksen e Nielsen, que: 


[...] Embora o contraste seja frequentemente exagerado nos relatos históricos, às vezes os resultados foram estilos de pesquisa consideravelmente diferentes. (ERIKSEN E NIELSEN, 200, p.59)


  Afirmação que não exclui, de certo, convergências entre o funcionalismo de Malinowski e o estrutural funcionalismo de Radcliffe-Brown, primeiro ambas correntes adotam uma abordagem sincrônica e empirista em suas pesquisas, desconsiderando a necessidade de realizar reconstruções históricas das culturas estudadas e reconhecendo a necessidade da realização do trabalho de campo, através da “observação participante” e ambos concebem a sociedade como um organismo composto de diversas partes interdependentes, mas, enquanto para Malinowski, o organismo social se revela através da análise etnográfica da relação entre indivíduo e grupo, para Radcliffe-Brown importa mais compreender e demonstrar as forças estruturais que integram os indivíduos à sociedade, as estruturas sociais, bem como o papel que desempenham, a determinação sobre o indivíduo, ou seja, a função produtora de que as estruturas, instituições sociais, acreditam na determinação da vida social, do homem como ser social (socializado).

  Outro fator que diferencia Malinowski é que ele não faz uso do método comparativo, no seu interesse etnológico, ou seja, por um estudo comparativo entre diferentes etnografias (culturas), indo, como diz o próprio Radcliffe-Brown (1978) em sua obra "O método comparativo em antropologia social", do particular ao geral, do geral para o mais geral, para, assim, chegar a uma compreensão das estruturas universais, comuns a todas as culturas humanas.


Referências bibliográficas


Eriksen; Finn Sivert Nielsen; História da antropologia ; tradução de Euclides Luiz Calloni; revisão técnica de Emerson Sena da Silveira. Petrópolis, RJ :'Vozes, 2007.p.58/62

MALINOWSKI,Bronislaw; Crime e costume na sociedade selvagem ; tradução de Maria Clara Corrêa Dias; revisão técnica de Beatriz Sidou. - Brasília

Brasília:Imprensa Oficial do Estado, 2003.100p.

O método comparativo em Antropologia Social ". In MELATTI, Julio Cezar (org.): Radcliffe-Brown: Antropologia, pp. 43-58. (Grandes Cientistas Sociais, 3) São Paulo: Ática. 1978



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