DESCOLONIZAR OS LIVROS DIDÁTICOS: RAÇA, GÊNERO E COLONIALIDADE NOS LIVROS DE EDUCAÇÃO

 


"O filho do artista tomando banho", obra de 1830 do pintor Pallière (Foto: Reprodução)

AUTORA:  VANESSA SANTOS LOPES DA SILVA


     RESENHA   



O artigo “DESCOLONIZAR OS LIVROS DIDÁTICOS: RAÇA, GÊNERO E COLONIALIDADE NOS LIVROS DE EDUCAÇÃO DO CAMPO”, da autora Rosana Medeiros De Oliveira, trata-se de um resultado de uma pesquisa sobre a raça e gênero no PLND de educação no campo, lançada em 2013. A pesquisa tem como análise todos os livros do programa, deste modo, ela segue duas vias centrais para entender como a raça e gênero performance nos livros: a colonialidade do saber e o estilo politicamente correto.

Entretanto, irei abordar sobre um subtítulo em que ela apresenta no texto, intitulado como: “ESCRAVAS” E “MUCAMAS”: GÊNERO E COLONIALIDADE; neste recorte Medeiros foca em como enxergamos a figura da mulher negra na nossa sociedade atual em contraste com outrora, e como o Brasil escravocrata desempenhava um papel aforado as famílias brancas. Desta forma, ela também trabalha a ideia de família branca e heteropatriarcal. 

Na seção do livro que aborda sobre “Famílias de Outros Tempos” tendo um tópico chamado “Famílias que viviam no campo” irá apresentar uma imagem para ilustrar como eram essas famílias, assim expondo duas jovens negras como objetos de uma mão de obra barata e escravagista , onde não há nenhuma problemática sobre os motivos que fazem com que tais jovens estejam e estejam na foto, mas, para além de estarem sendo utilizadas na imagem como meras representações de um determinado período para aquele contexto histórico no Brasil; estão cada uma posicionada ao lado da família branca, sendo vistas como um objeto decorativo ou como demonstração de poder, subserviência e riqueza sobre o povo negro. 

 A imagem apresenta imageticamente uma família branca e heteropatriarcal do século XIX, com duas jovens meninas negras utilizadas como “mucamas ” (no texto, nas legendas e no glossário). Na foto, essas jovens meninas estão cada uma em um extremo, apontando imageticamente para seu pertencimento subalternizado e periférico à família. Além disso, uma delas está ajoelhada, numa posição de serviço e subserviência. Tal imagética não é questionada ou problematizada no livro . (MEDEIROS, Rosana, 2017, P.19. grifos meus)

Contudo, o termo “mucamas” era utilizado para mulheres negras (mulheres negras escravas) que vivenciavam os serviços domésticos de seus senhores e acompanhavam as suas senhoras nos seus passeios, podendo até ser mães de leite para os filhos de seus senhores. Ou seja, as jovens negras eram obrigadas a realizar tarefas de subserviência para as famílias brancas no Brasil colonial. Porém, a sociedade brasileira constituiu um racismo histórico, cultural e estrutural; ainda hoje vemos mulheres negras ocupando espaços de serviço. Medeiros dirá que: “[...]chamar tais jovens meninas negras de “escravas” reitera o discurso colonial que não tratava essas vidas como humanas, mas sim como objetos de comércio e uso, coisas-escravas.”

[...] por meio de uma historicização que não reconhece a humanidade dessas pessoas, reforçando o racismo. [...] associação naturalizada entre trabalho doméstico e mulheres negras (escravizadas), reforçando o imaginário social racista e sexista. Ensinar a pensar história nesse caso exigiria apresentar o caráter contingente dessa associação (trabalho doméstico, mulher negra e escravidão), e não reduzir a mulher negra à condição de escrava doméstica, ou à sua relação com o senhor, ou com a “dona da casa ” ”, como faz o texto (idem). (MEDEIROS, Rosane, 2017, p. 21)


Portanto, na atualidade mulheres negras ainda ocupam estes espaços, muitas trabalham como domésticas, babás, serviços gerais, faxineiras, lavadeiras, dentre outras categorias de trabalhos, ditos como lugares de merecimento; o racismo estrutural deposita a culpa nessas mulheres para justificar e mascarar a crueldade de um sistema opressor que massacrou e massacrou a população negra no Brasil; o contexto histórico da civilização brasileira é marcado pela desvalorização negra, e principalmente quando se trata do sexo feminino, que não só fora utilizado como objeto de troca, objeto de reprodução de mão de obra e enriquecimento das famílias europeias que aqui habitavam.

 Sendo vítimas de violência sexual, exploradas no trabalho escravo e braçal, vistas como uma máquina de reprodução, tiradas do direito de criar seus próprios filhos para cuidar dos filhos dos seus senhores. Será que a mulher negra hoje conseguiu libertá-la da opressão do patriarcalismo? Ou que todas as mulheres negras constituem das mesmas oportunidades e são vítimas de suas próprias decisões? Não, porque a realidade é uma reprodução de outra, pois nada mudou, apenas se esconde em liberdade e nem todas as mulheres negras possuem as mesmas oportunidades, logo a culpa de ainda haver tanta desigualdade racial e de gênero, é culpa de um país que teve sua origem civilizatória e enriquecimento através do extermínio de vários povos e exploração do povo negro.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

MEDEIROS, Rosana de Oliveira. Descolonizar os livros didáticos : raça, gênero e colonialidade nos livros de educação do campo. Revista Brasileira de Educação v. 22 n. 68 jan.-mar. 2017

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